domingo, 10 de julho de 2016

O Império contra-ataca

Passados vinte anos, os aliens resolvem atacar os Estados Unidos da Terra mais uma vez. E mais uma vez num Quatro de Julho. Tanto tempo e os ETs de Independence Day não atinaram o óbvio: que não há chance de vitória contra os americanos quando eles estão num dos seus raros dias de folga. Bem se vê que poderio bélico e vida inteligente não caminham necessariamente juntos.

Outra conclusão a que cheguei ao final do filme: tamanho não é mesmo documento. Nem uma nave capaz de cobrir um oceano inteiro – e de pulverizar uma capital como Londres – faz sombra àquela (bem menor) que mandou a Casa Branca pelos ares. Claro, essa sequência gerou tanto impacto à época, a ponto de se tornar antológica, porque foi realizada muito antes da queda das Torres Gêmeas, quando a América (e o Ocidente de modo geral) ainda conservava certa aura de território inexpugnável.

Hoje em dia, a consciência de que nenhum lugar é seguro (nem Nova York, nem Washington, nem Paris, nem Orlando) talvez dilua a comoção da plateia diante dessas explosões de terabytes. Acrescente-se a isso o fato de o longa de 1996 ter (re)aberto as portas do cinema para o apocalipse, possibilitando que vulcões, tsunamis, asteroides e até uma profecia maia tirassem suas casquinhas da superfície terrestre – o que de alguma forma anestesiou o público para cenas espetaculosas de destruição em massa.

Já que superar o original com mais tiro, porrada e bomba seria quase impossível, que se tentasse com os novos personagens. Não deu. Você soma todo o elenco jovem (que conta até com o irmão do Thor que não é o Loki, mas o ainda inexpressivo Liam Hemsworth) e não atinge dez por cento do talento e carisma de Will Smith – cujo capitão Steven Hiller virou apenas uma foto na parede depois de sua morte durante testes do primeiro caça com tecnologia alienígena.

Salvam-se ali os veteranos, entre os quais Bill Pullman – que, se agora não sobe no carro de som para levantar a moral da tropa, ao menos mantém o olhar charmosamente canastra de presidente herói – e Jeff Goldblum – que sustenta a imagem de profissional sério (uma espécie de consultor do governo para assuntos interplanetários) sem deixar de lado o bom humor diante do absurdo, como no instante em que comenta que os ETs adoram destruir nossos pontos de referência.

Infelizmente, tiradas divertidas como essa não redimem o roteiro – que seria mais atraente se desenvolvesse as boas ideias que sugere e não sucumbisse a velhos preconceitos. Por um lado, minutos que poderiam ser usados para detalhar a ação dos ETs presos na Área 51 ou os incidentes na África (onde o pouso de uma nave deu origem a uma batalha campal entre humanos e aliens) são desperdiçados com bobagens, como a caricatura irrelevante e sem graça de Nicolas Wright. Por outro, o cuidado de se mostrar um mundo menos machista que o de duas décadas atrás – com mulheres em posições de comando – é sabotado pelos próprios roteiristas, que concebem a presidenta americana como uma líder que, invariavelmente, toma decisões erradas e precisa ser substituída por... homens.

Esses tropeços, no entanto, ainda poderiam ser minimizados se o filme conseguisse ao menos emular a tensão crescente de seu antecessor, quando os espectadores iam ficando mais e mais aflitos a cada ofensiva terráquea que esbarrava nos sistemas de defesa do inimigo e nos aproximava da extinção. Não consegue. Culpa do clímax, que inclui uma godzilla mais desengonçada que assustadora perseguindo um típico school bus? Ou do clímax do clímax, que traz quatro caças manobrando explicitamente contra a monstrenga, sem que a esquadrilha adversária se mexa para defendê-la, permanecendo confinada naquele carrossel inútil em torno de sua rainha?

Se não chega a ser um desastre – em especial graças à memória afetiva que certas passagens e personagens despertam nos fãs –, o novo ID aterrissa nas telonas a anos-luz de seu precursor. Arrasa tanto quanto arrasou, desta vez, um famoso cartão-postal, causando nele meras escoriações e fazendo tombar tão somente a bandeirinha que tremulava em seu topo.

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