domingo, 13 de dezembro de 2015

Terceirizando a felicidade

Você que não está nem aí para o Natal porque acha uma presepada essa história de presépio; você que não aguenta mais ver aquele idoso-propaganda, vermelho da cabeça aos pés, anunciando perus em promoção; você que não suporta essa época do ano em que as pessoas praticamente se obrigam a nevar sorrisos, mesmo com a temperatura e os preços subindo – você tem o meu perdão.

Só não tem uma uva-passa da minha misericórdia quem contrata firma para montar o próprio pinheirinho. Sério. Essa gente existe. E alega não ter espaço na agenda para comprar um arbusto que seja nas Lojas Americanas. Jura não dispor de meia hora para juntar o quebra-cabeça de galhos numerados, testar aqueles pisca-piscas que mal resistem até a noite feliz, pendurar aqueles enfeites de purpurina pura, prender no topo aquela estrela que insiste em tombar para a direita.

Mas que graça tem ostentar uma árvore se não foi você que a plantou? Pior: se não foi você que resolveu onde ficaria a bolota mais bonita?

Dia desses, estava eu passando por uma pracinha quando dei com várias crianças e suas babás. Era domingo. Do-min-go. A pergunta que não quis calar: em que lugar do mundo estariam os pais daquelas mudinhas de gente que não ali, ao lado delas, rolando na grama, sujando as mãos de terra, empurrando o balanço, jogando bola, apostando corrida com o vento, cuidando de joelhos ralados?

Cada vez mais, as pessoas delegam a terceiros aqueles instantes que poderiam render lembranças dignas dos findes cheios de sobremesa e colchonete na casa dos avós.

É o fulano que chama a Tia Augusta para levar os filhos à Disney e perde uma selfie com o Mickey. É o beltrano que encarrega a noiva de escolher o bufê e desperdiça a prova dos canapés. É a sicrana que pega o resumo de Dom Casmurro na internet e deixa de olhar nos olhos da Capitu. É a lindona que vota em quem o vizinho vota e joga fora a oportunidade de decidir seu futuro. É o bonitão que manda a secretária comprar o presente da esposa e abre mão do sorriso da amada ao perceber que foi ele mesmo quem garimpou o mimo. É a galera que transfere a vida social para as redes e mal lembra o quão gostoso é um abraço coletivo entre amigos.

Desse jeito, não demora até que terceirizem férias e feriados – já que praia, cachoeira, cinema, teatro ou debobeirismo no sofá só geram estresse e ansiedade.

Nem preciso dizer que eu ofereceria fácil, fácil meus serviços de baby-sitter em Orlando, ou mesmo meu apurado paladar na próxima degustação de acepipes. Reler Machado também não seria sacrifício. Abraços? Forneço-os sem cobrar honorários. Mas, por ora, vou poupar minha generosidade. Vou dar aos enfastiados de plantão uma última chance de semear e cultivar a própria árvore; de experimentar seus frutos – sempre os mais saborosos.

Pelo menos até eu convencer uns clientes a me contratarem para representá-los em cada uma daquelas sessões de tortura.

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