domingo, 14 de dezembro de 2014

Por uma vida sustentável

Um atraso de cinco minutos e ele (ou ela) já se irrita. Franze a testa, torce o nariz, enche o peito, mexe a cintura, cruza os braços, bate o pé. Faz praticamente uma sessão de lambaeróbica só porque você levou tempo demais calçando os sapatos ou estacionando o carro. Antes fizesse regularmente lamba, funk, sertanejoaeróbica até – qualquer coisa que liberasse a endorfina represada e poupasse o mundo de seus pitis de alto impacto.
                 
Ô, campeão (ou campeã), negócio é o seguinte: não dê tanta importância a faltinha boba, passe lateral, chute sem direção. Nenhum desses lances vai entrar nos melhores (nem nos piores) momentos da partida. Muito menos vão aparecer naquela retrô de fim de ano apresentada pelo Chapelin. Portanto, não desperdice músculos, neurônios e principalmente segundos – seus e dos outros – com bobagices.

Não gaste seu sistema Cantareira com aquele quadrinho que jamais descansará na posição certa; com aquela garoa que cai sempre na hora errada; com aquele arroz à grega que mais parece um panetone de tanta passa; com aquela prova de resistência coronariana que é marcar a consulta no cardiologista; com aquele celular que sofre da síndrome do telefone fixo, e só funciona na tomada; com aquela vizinha que insiste em redecorar a sala diariamente (e, para isso, arrasta sofá, estante...); com aquele tio carente que costuma ligar assim que começa o último capítulo da novela.

Com aquele coleguinha que, de boca fechada, é a estátua do Drummond.

Só consuma seu reservatório – e aí vale chegar ao volume morto – em caso de beijo apaixonado no amor da sua vida; abraço apertado nos pais; faxina no apê para receber a moçada; preparativos para festa de qualquer espécie; campanha para candidato ficha limpa; montagem de árvore de Natal; escolha do presente perfeito para o amigo oculto; sapatinhos de crochê para bebês em geral; fila sob chuva para show do Paul McCartney; curso rápido de francês para conhecer Paris sem guia; peregrinação por TODAS as atrações do Magic Kingdom antes dos fogos de artifício.

Se não for para esgotar corpitcho e mente com atividades desse tipo – que dão prazer a você e/ou aos outros, que tornam este planetinha um lugar ligeiramente mais habitável que os desertos marcianos –, o melhor a fazer, então, é seguir o exemplo das sábias tartarugas de Galápagos: economizar energia e viver duzentos anos.

Talvez seja tempo suficiente para abastecer o coração de sentimentos potáveis.

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