domingo, 21 de setembro de 2014

Sonho de uma noite de verão

E eu achando que ainda havia um William Wallace debaixo daquelas saias.

Juro por Paul (e John e George e Ringo): por um instante acreditei que a Escócia deixaria o Reino Unido e abriria uma vaga para o Brasil. Já tinha até marcado com meu neuro a cirurgia de inversão dos lados do cérebro. Queria estar o quanto antes pronto para a mão inglesa.

Não via a hora de trocar o relógio da Central pelo Big Ben e, por tabela, o atraso tipicamente carioca pela pontualidade britânica. Cansei de chamar os amigos para aquele churrasco de domingo e ouvir dos que só chegavam no fim da festa, bem depois da sobremesa, que preferiam a picanha malpassada.

Minha educação praticamente anglicana me impede de repetir o que eu dizia a eles.

Mary Poppins, culpada pelos meus bons modos, sugeriria sugarmente que eu voltasse ao delírio para contemplar a troca da Guarda – e da Rio-Niterói pela Tower Bridge; da Baía de Guanabara pelo Tâmisa; do Aterro pelo Hyde Park; da Praça Saens Peña, da Praça Varnhagem, da Praça é nossa pela Trafalgar Square. Viva o humor inglês.

Viva também o futebol inglês. Não o da seleção, mas o da Premier League. Estádios teatros, gramados tapetes, craques artistas. Um Brasileirão de Rolls-Royce, sem os flanelinhas da Cêbêefe. Só não sei ainda se meu coração vermelho-cruzmaltino combina mais com o red do Manchester, do Liverpool ou do Arsenal.

Sei é que o sonho não acabou: bastou eu tirar a dupla cidadania para receber uma cartinha de Hogwarts e ingressos para a próxima Copa de Quadribol. Pena que no caminho até King’s Cross topei com Jack o Estripador. Aí só me restou o papel de vítima em mais um caso de Sherlock Holmes.

Elementar, meu caro leitor: depois disso tudo, o imigrante aqui foi deportado de sua ilha da fantasia. Olhei pela janela – era a Tijuca de todos os dias. De todas as praças. Do busão que rasgava a rua fugindo dos passageiros, como era o costume. Não tinha dois andares nem a cor da cruz de São Jorge. Mas parecia estar a serviço de Sua Majestade. Levava nas costas um adesivo imensamente sugestivo: keep calm and carry on.

Voei para a cozinha e acendi o fogo. Precisava urgente de um Earl Grey.

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