domingo, 7 de setembro de 2014

O dia da dependência

Há seis anos escrevi um texto com o mesmo título. O blog era o Ultramuito, que ainda deve estar por aí, vagando morto-vivamente na rede. O Sete de Setembro também caía num domingo, e o blogueiro aqui reclamava do dia sem rodada do Brasileirão por causa do jogo da Seleção contra o Chile, pelas Eliminatórias da Copa. O técnico da vez – não, não estamos no set de Feitiço do tempo – era o Dunga.

Tentando fugir dos clichês verde-amarelos, eu aproveitava a data para listar as coisas das quais era dependente, das quais não conseguia me libertar nem com o grito do Ipiranga. O Campeonato Brasileiro era um deles – e continua sendo. A diferença é que agora, por força das circunstâncias cruzmaltinas, estou viciado numa gramita mais pesada, com estádios e jogadores muitas vezes reprovados pela Vigilância Sanitária da Fifa: a Série B.

Melhor mudar de erva, digo, de assunto.

Naquela crônica, eu lembrava ainda a dependência que sentia dos Beatles, das almôndegas preparadas pela mamãe, das doses semanais de cinema, das bobagens faladas com os amigos mais próximos, dos vídeos raríssimos assistidos no Youtube, das novidades de Orlando. Tais substâncias permanecem em minha dieta e delas dificilmente vou me livrar. Já as aceitei como temperos essenciais da vida e pretendo consumi-las até onde o fígado aguentar.

De outras, porém, finalmente bradei independência: da novela das oito, por exemplo. Afora o fato de agora ela ser das nove, não consigo mais me dedicar de corpo e neurônios a uma história que leva oito meses, seis dias por semana e mil e um lugares-comuns para chegar ao último capítulo com beijo técnico, casamento na Igreja de Nossa Senhora do Projac e criança recém-nascida de dez quilos, oitenta centímetros e diploma do Tablado.

Outra vitória pessoal, que exigiu muita perseverança e Rivotril, foi ter me curado definitivamente da compulsão pelas últimas notícias dos outros no Orkut. Atualmente, só trago – com moderação – o que compartilham no Face. Exceto, pleaaaaase, aqueles joguinhos para os quais os amiguinhos insistem em enviar convitinhos. Eles (os joguinhos, os convitinhos, os amiguinhos, não necessariamente nessa ordenzinha) dão uma raivinha que – que é mais saudável eu deixar pra lazinho.

Mas claro que nem tudo são abstinências e diminutivos. Há flores também, como a minha Fernanda, com quem casei faz quase três anos e de quem não desejo um segundo de privação. Dessa metrópole, aliás, a colônia localizada a oeste do meu peito não tem a menor intenção de declarar independência.

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