domingo, 2 de junho de 2013

Aquele beijo

Bancar o Carrasco por um dia e promover o reencontro do Félix com um velho amigo de infância repercutiu mais do que eu imaginava. Não porque o texto estivesse particularmente inspirado (até estava, vamos combinar). Mas porque inventei de dizer que os dois protagonizariam o primeiro beijo gay da novela brasileira.

Pra quê: minha caixa de entrada transbordou com uma enxurrada de e-mails dos meus nove leitores protestando que a primeira bitoca homoafetiva do folhetim nacional havia se dado – ou se havia dado? – entre Marina (Gisele Tigre) e Marcela (Luciana Vendramini) em Amor e revolução, “clássico” de Tiago Santiago exibido no SBT em 2011.

Até link da cena no Youtube me enviaram.

Enviaram pro sujeito errado. O destinatário deveria ter sido o Seu Walcyr. Afinal, foi ele quem escreveu aquele projeto de capítulo; pelo menos, o espírito dele, que – sabe-se lá por que macumba – baixou em mim na semana passada. Foi o autor global quem rabiscou aquelas linhas, inclusive a afirmação que gerou tanto... babado.

E, cá entre nós, ele (ou eu, nem sei mais) agiu nos conformes, como bom funcionário da casa – que não enxerga selinho que se dê além do Jornal nacional. Se o smack não foi noticiado pelo William, entrevistado pela Patrícia ou comentado pelo Alexandre, não aconteceu. Se não apareceu no Fantástico, não apareceu em lugar nenhum. E pronto. Acabou-se. Vida que segue – dentro da caixinha.

Vejam o caso do UFC, aquela briga de galo feita com gente. Antes de a emissora comprar os direitos de transmissão, a “modalidade” não existia. Simples assim. Podia o Anderson Silva quebrar os ossos do Schwarzenegger e Stallone juntos que continuaria sendo o famoso quem?! Mas agora, amigos da Rede Globo, não há novela sem ao menos um lutador de MMA. É a cota. Como a das periguetes.

Fenômeno semelhante ocorre no Melhores do Ano, prêmio concedido pelo Faustão aos destaques da tevê: não há um ser humano indicado que não seja da Todo-Poderosa. Ah, um cricri dirá, a Hebe já foi homenageada no palco do Domingão com o troféu Mário Lago! (espécie de Oscar pelo conjunto da obra). E quem disse que a Hebe era humana? Que eu saiba, veio do Olimpo e pra lá voltou – linda de viver.

Lindo de viver entrei eu certa vez num táxi, e qual não foi meu espanto ao perceber que o motorista nem sonhava que nossas meninas do vôlei decidiam o ouro olímpico naquele instante, em Londres, com transmissão ao vivo da Record. O incauto do chofer acompanhava com ouvidos de ressaca o Luciano Huck. Loucura, loucura.

Então, como Carrasco por um dia – como funcionário-do-mês-do-ano-da-década-e-até-que-a-rescisão-do-contrato-nos-separe que se preze, que não tira o crachá nem no minuto do comercial –, eu disse e repito, sem direito a cenas dos próximos capítulos: Marquito olha Félix no fundo (dos olhos). Os dois se aproximam em super slow – e se beijam. De pontinha de língua. É o primeiro beijo gay da novela brasileira.

E a câmera se afasta enquanto os sinos repicam. Plim. Plim.

4 comentários:

  1. Texto bem interessante, retrata bem o monopólio de uma emissora, que consegue dominar a massa e dar a impressão de ser a única opção, vejo essa emissora como uma máquina manipuladora a serviço da elite!
    Obrigado pelo comentário no meu blog!

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  2. A TV brasileira é tão atrasada e preconceituosa que quando acontece essas cenas parece que descobriram o Brasil... não que os EUA sejam exemplos perfeitos, lá o preconceito é mais esclarecido, mas vc encontra um beijo entre dois sexos iguais numa sitcom... programa de familia rsrs e nas séries mais adultas rola até sexo :)

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  3. Discordo que novela seja coisa de idiota. Novela é entretenimento, assim como filmes, programa de humor, cinema, praia, teatro, internet... Cada um busca o que está ao seu alcance e o que propicia descontração.

    Quanto o beijo gay, não sei qual foi o 1º ou 2º... só sei que choca, mas a TV é a forma de enfrentar a opinião social.

    Quando as pessoas praticarem o sentido da palavra RESPEITO vai entender que novela não é coisa de idiota, vai entender as ações necessárias de grupos de mulheres bem como de todos os movimentos sociais existentes.

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