domingo, 3 de junho de 2012

À francesa

Há dias em que deveríamos acordar em Paris. Croissant no café, Monet na parede, Torre Eiffel na janela. Infelizmente, nem sempre é possível. Quase nunca. No meu caso, nunquinha (ainda!). Paciência. De vez em quando, dou um jeito, fujo do trabalho e me escondo numa sala escura só para ouvir a língua de Toulouse-Lautrec.

Ou para ver os olhos amendoados da Audrey Tautou. Na última escapadela, seu mais recente filme, o briochinho A delicadeza do amor. A história de uma viúva (Nathalie) que se soterra de trabalho para esquecer a tragédia que vitimou seu marido (François). Até a hora mágica em que ela decide beijar um de seus colegas, o tímido Markus. Assim mesmo – do nada.

E é daquele "nada", daquele encontro inesperado (para os dois), que nasce discretamente, sem violinos e clichês, sem circunstâncias estapafúrdias e pompas hollywoodianas, o sentimento que os aproxima, que lhes dá a chance de enxergar o outro de perto e descobrir afinidades até então invisíveis: o tal do amor.

Daí em diante, a câmera da dupla David e Stéphane Foenkinos desenha carinhos e medos do casal com as tintas da suavidade – como num breve passeio pelo jardim da casa da avó dela –, uma pincelada de graça – como no momento em que Markus se perfuma antes de teclar com a amada – e uma edição que salta elegantemente no tempo – como na sequência inicial, na qual espiamos o dia em que Nathalie conheceu François.

Por falar em François (não o marido de Nathalie, mas o outro, François Damiens, que interpreta Markus), nele está a alma do filme. Seu jeitão desajeitado, sua fala mansinha, sua sensibilidade de poeta despretensioso alcançam o espectador mais distante. Cá entre nós, é possível não se apaixonar por um sujeito que, ao ser questionado sobre o que mais gosta em sua namorada, diz que ela lhe permite ser a melhor versão dele mesmo?

Como não é possível deixar a Cidade Luz, digo, o cinema e ir direto para casa ver a novela das nove. Antes, aquela paradinha sem pressa no Café Sorelle para uma fatia de quiche. Alho-poró, rúcula, tomate seco, uma xícara de saudade com canela – e a certeza de que há noites em que deveríamos dormir em Paris. Ulalá!

Um comentário:

  1. Adoro filmes franceses, ainda mais com a Audrey! Adoro a língua, os cenários, e os filmes com ela são ainda muito envolventes!
    Gostei da dica!

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